Quero ser a melhor mãe, a mãe que estimula, que brinca e, mais importante que tudo, que dá carinho. A mãe presente, brincalhona, o peito onde ela põe a cabeça de manhã quando vem para a nossa cama e o cheiro que ela quer antes de dormir. A mãe com tempo. Não quero que ela veja na minha cara o monitor do computador reflectido. Não quero que ela ache que o meu telemóvel é o melhor dos brinquedos por me ver sempre agarrada a ele. Não quero adormecê-la à pressa, com o coração já descompassado e com o maxilar cerrado, porque tenho outras coisas para fazer.
Quero continuar a sentir-me bonita. Não gosto de me ver ao espelho com a raiz meia oleosa, com unhas cheias de peles e já algum buço e achar que não faz mal porque agora sou mãe e porque ninguém vai reparar. Lá porque somos mães, não temos sempre, sempre, desculpa para o desmazelo. Mas... como encaixar isto com tudo o resto? Hora de almoço, dá tempo? Não vale a pena sugerirem para fazê-lo em casa porque com um verniz na mão pareço ter Parkinson.
Gostava de ser uma mulher atenta e interessante, que faz jantares, que leva o pequeno-almoço à cama de vez em quando, em vez de acordar com sono a rogar pragas ao mundo, que consegue conversar sobre cinema e ver séries, mas ultimamente a minha cabeça está em tudo menos ali.
Quero, num fim-de-semana, ir a 4 lojas diferentes, comprar madeiras, placas de mdf, pregos, parafusos, tecido, dracalon, adereços, molas, balões, cadeira, ir buscar um cesto de verga emprestado, ir às compras, fazer um bolo para a sessão de fotos, fazer uma bandeirola de papel de seda, fazer sopa da Isabel para a semana, fazer uma cabeceira para a mesa do aniversário, ir à sessão de fotos com a Isabel, passar numa festinha à tarde, ir comprar água, ah! e fraldas para o infantário, responder a e-mails, escrever, ver os "meus" programas da SIC porque quero ver sempre o resultado final, fora tudo o resto... e conseguir manter a sanidade mental.
Não estou a conseguir. Sinto-me cansada e o raio das dores de garganta e da voz de cana rachada que não passam e que me dão péssimas noites. E a Isabel anda ranhosa e também ela a dormir mal.
Tenho de aprender algo com isto. Transformar-me numa super-mulher não está a ser fácil, por isso talvez tenha de começar a prescindir de algo. A ser menos picuinhas com a festa de anos, a não querer ser a mãezinha que pensa em tudo. A fazer uma lista de prioridades do dia que não tenha mais de 10 itens por dia (mais vale menos e fazê-los bem e com tempo). Não achar que consigo estar em dois sítios ao mesmo tempo. A impôr regras em casa: só toco no telemóvel depois dela ir dormir. A fazer compras on-line e deixar-me de merdas esquesitices de querer escolher os produtos e não sei quê. A deitar-me mais cedo. Só assim conseguirei ser a mãe, a mulher, a profissional que quero ser: equilibrada. Não tenho de ser perfeita, não tenho de conseguir fazer tudo.
Há por aí super-mulheres ou já aprenderam a abrandar o ritmo?