Fortaleza, Telégrafo, Farol ou Prisão?
Adoro Lisboa. Existem apenas mais duas cidades onde não me importaria de viver, ambas em Espanha, Barcelona e Donostia. Talvez por isso, sejam cidades que tento visitar com alguma frequência. De semelhança com Lisboa, sá o facto de terem mar perto (no caso de Lisboa, o rio), a uma distância à qual nos podemos deslocar a pé.
Desta forma, Belém é sem dúvida a minha zona de Lisboa favorita. Talvez por isso irão abundar aqui fotografias sobre esta zona. Mas, mais do que o facto de ser perto da água, Belém é das minhas zonas favoritas porque era para aqui que os meus avós, que moravam ao cima da Rua dos Jerónimos, me traziam tantas vezes para brincar quando era criança e por isso encontra-se tão cheia das memórias que quero sempre recordar.
Assim que saí do carro deparei-me logo com uma réplica exacta do avião usado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922, para realizar a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.
Continuando em direcção à Torre de Belém e porque ainda faltavam 30 minutos para a sua abertura, resolvi contorna-la e fotografa-la de vários ângulos, apreciando os seus detalhes exteriores.
A Torre foi criada em 1514 sobre o reinado de D. Menuel I, com o intuito de proteger a cidade. Com o passar do tempo, e com a construção de novas fortalezas, a Torre de Belém foi perdendo a sua função de defesa e passando a desempenhar funções de controle aduaneiro, de telégrafo, de farol e prisão política durante a ocupação filipina. Actualmente é considerada património da humanidade pela Unesco.
De seguida dirigi-me ao monumento em homenagem aos combatentes da guerra do Ultramar que ocorreu entre 1961 e 1974. Na parede me redor do monumento encontram-se gravados em jeito de homenagem os nomes de todos aqueles que perderam a vida durante esta guerra. Estando lá, sentimo-nos insignificantes perante a imponência desta parede com milhares de nomes escritos e por momentos dei por mim a agradecer pelo nome do meu pai não estar lá escrito.
De volta à torre, resolvi entrar para ver os detalhes do estilo manuelino com a qual foi construída. Neste momento já o tempo era pouco, pelo que corri pelas escadas acima, não só para o aproveitar ao máximo, mas também para fugir às dezenas de turistas que entravam pela porta.
Ao regressar ao carro, dei por mim a lembrar-me dos dois momentos passados aqui e que mais me marcaram.
A benção das fitas que no meu ano, ao contrário do que é habitual, aconteceu nesta ao zona e não na Alameda Universitária. A organização foi um caos, mas para mim, foi especial.
O outro momento foi a primeira vez que vim à Torre de Belém e entrei. Tinha cerca de dez anos a acabado de descobrir que se podia subir ao cimo da Torre. Chateei o meu avô durante semanas até que ele lá cedeu e me trouxe. Saímos num Domingo de manhã, com o aviso da minha avó de não nos atrasarmos para o almoço, e seguimos a pé desde os Jerónimos até à Torre (o meu avô não era muito amigo de gastar dinheiro e por isso o autocarro/elétrico estavam fora de questão). Quando chegámos lá entrámos, explorámos a Torre até que ao darmos pelas horas já estava na hora do almoço e os meus pais e a minha avó esperavam-nos em casa. Lá fomos nós a correr para casa (de novo a pé), eu com cerca de dez anos e ele com mais de setenta e o caminho de volta parecia não ter fim. Obviamente chegámos atrasadíssimos e ouvimos uma reprimenda de todos. Mas não fez mal, foi a nossa aventura e relembrámo-la muitas vezes entre sorrisos.
Fiquei com pena de ir embora, pois o sol convidava a ficar numa esplanada a ler e relembrar mais memórias, mas estava na hora de ir trabalhar e como se costuma dizer: "O que tem de ser tem muita força!".
Publicado no meu ex-blog: "Olhar à minha volta" a 06/04/2011